Entrevista ao CEO 2021: Crescimento
& Transformação

Olhando para o último ano em retrospetiva, mais um marcado pela pandemia e pela disrupção económica e social, como é que o vai recordar?

Em 2021, o nosso espírito de entreajuda, agilidade e resiliência foi novamente posto à prova. Para nós, como Empresa, fica para o futuro uma clareza reforçada sobre a importância de contar com Equipas competentes, coesas e resistentes à adversidade, como aquelas com que tenho o privilégio de trabalhar, para ser possível ultrapassar os desafios impostos por realidades como a crise pandémica que vivemos. Estamos hoje muito mais preparados, como conjunto, para outros choques que possam acontecer.

Olhando para trás, no último ano, e após um difícil 2020, o cenário de saúde pública veio testar de forma ainda mais agressiva a nossa capacidade de reação, com um extenso confinamento logo a partir de janeiro. Para os nossos Negócios as palavras chave foram incerteza e volatilidade, com grandes flutuações nas condições de operação ao longo do ano, fruto do ora alívio, ora endurecimento de restrições, com diferentes impactos insígnia a insígnia, e formato a formato.

Acima de tudo, 2021 foi mais um período de superação para a MC, só possível porque mantivemos como norte três prioridades principais: proteger as nossas Pessoas e Clientes, e suportar as Comunidades à nossa volta; promover a agilidade na resposta às alterações constantes de circunstâncias a impactarem os nossos Negócios; não perder de vista a nossa visão de longo prazo para a Empresa, particularmente no que respeita à concretização das nossas oportunidades de crescimento.

Naturalmente, falando de crescimento, tenho de destacar um grande marco de 2021, a entrada de um novo acionista no capital da MC, a CVC, através do fundo Strategic Opportunities, complementando a Sonae no seu papel de acionista maioritário, movimento que veio suportar e reforçar a nossa visão de futuro.

Em termos de expectativas dos consumidores e grandes tendências, o que entende ter-se alterado de forma mais estrutural e deverá permanecer após restabelecida a normalidade?

A principal alteração que vemos está relacionada com a adoção digital, que deu um salto de vários anos, numa aceleração visível em várias frentes. Por um lado, num expressivo crescimento do e-commerce que, mesmo em Negócios tradicionalmente mais protegidos dessa realidade, como o retalho alimentar, encontra-se hoje num patamar bastante mais relevante. Observámos, adicionalmente, o crescimento das soluções de entregas rápidas, também denominadas instant deliveries, que foram ganhando importância nas entregas de retalho alimentar e refeições, criando um novo mercado. Por outro lado, vemos os Clientes com uma expectativa redobrada de que existam soluções digitais para os principais pontos de fricção nas suas experiências de compra, onde quer que ocorram, no canal físico ou online, com destaque para a evolução registada nos pagamentos digitais.

Também muito estimuladas pela adoção digital, as formas de trabalhar foram transformadas e não regressarão ao cenário pré-pandemia. Os modelos híbridos e remotos de trabalho vieram para ficar e, com eles, a centralidade do lar na vida das famílias ganha um novo protagonismo, o que tornará permanentes alterações de hábitos de consumo que emergiram neste período.

Sobre outras tendências que se verificam hoje, permanece uma maior dúvida sobre os contornos pós-pandemia. Se umas dependerão do nível de recuperação da atividade económica nos próximos anos, outras manter-se-ão ou não em função da recuperação de hábitos sociais anteriores ao COVID-19. Mas continuaremos atentos para garantir que os consumidores portugueses encontrem sempre as melhores soluções dentro do ecossistema MC.

Que iniciativas marcaram a execução da estratégia de longo prazo da MC em 2021?

Respondendo à crescente adoção digital, e em linha com o nosso foco estratégico nesta área, 2021 foi um ano marcado pelo lançamento de novas lojas online, quer no Continente, quer na Wells, que permitiram oferecer aos consumidores portugueses uma experiência de compra completamente renovada e diferenciadora. Adicionalmente, abrimos a primeira loja sem caixas de pagamento, primeira de um retalhista europeu, o Continente Labs, que tem sido um excelente laboratório de aprendizagem e inovação para a nossa operação de retalho.

Continuámos a privilegiar o crescimento, e por isso prosseguimos a expansão da rede de lojas Continente Bom Dia e Continente Modelo, acompanhada pela expansão de outras insígnias como a Bagga, Zu e Note, que muito contribuem para o poder de atração das nossas lojas de retalho alimentar, oferecendo conveniência adicional aos nossos Clientes. Temos ainda espaço para reforçar a nossa dimensão em Portugal e estamos empenhados em capturar o potencial que existe. Também em saúde, bem-estar e beleza mantivemos o nosso caminho de crescimento, com destaque para os novos conceitos de loja da Wells e da Arenal, implementados em Portugal e Espanha.

Todos estes desenvolvimentos só foram possíveis porque continuámos a evoluir também no que é invisível aos olhos do Cliente. Terminámos a ampliação do centro de distribuição da Azambuja e começámos uma grande intervenção no centro de distribuição da Maia, ambas essenciais para suportar a nossa visão de futuro da Empresa. Levámos também a cabo um conjunto de novas iniciativas orientadas para o desenvolvimento e promoção do bem-estar das nossas Pessoas, tomando em conta os novos modelos de trabalho e as dinâmicas dos Negócios.

Por último, salientaria ainda a conclusão da venda da nossa participação na Maxmat, inserida numa estratégia de gestão ativa do nosso portfolio de Negócios.

O que destacaria em termos da atuação da MC na área de sustentabilidade?

Referiria as nossas iniciativas principais nas três grandes áreas onde podemos causar maior impacto e onde temos enfocado a nossa ação. Em primeiro lugar, na área da diversidade e inclusão, com um foco na singularidade, temos trabalhado as temáticas da igualdade de género, com a ambição de 40% dos nossos cargos de liderança serem assegurados por mulheres até 2023, e das incapacidades, onde trabalhamos para reforçar a nossa capacidade de integração.

Na área do ambiente, aumentámos de forma significativa a nossa capacidade de produção de energia renovável e, através de um acordo de compra a longo-prazo («PPA offsite»), assegurámos que cerca de 20% da eletricidade consumida pela MC será proveniente de uma fonte de energia renovável. Prosseguimos também o esforço e investimento que temos vindo a fazer na promoção da eficiência energética, desde há mais de dez anos. No último ano, por exemplo, continuámos a melhorar a reciclabilidade das embalagens de plástico das nossas marcas próprias, atingindo nesse indicador uma taxa de cerca de 75%.

Finalmente, somos um agente ativo na promoção do apoio sustentado às Comunidades, com um papel particularmente visível neste período pandémico, em que doámos cerca de 20 milhões de euros e contribuímos com uma campanha pioneira para a discussão e combate a um tema transversal a toda a nossa sociedade, a solidão e o isolamento social. Uma Empresa da nossa dimensão deve fazer a diferença, e nós queremos mesmo continuar a fazer essa diferença.

Qual é a sua leitura do desempenho financeiro da Empresa em 2021?

A MC voltou a apresentar resultados que me enchem de orgulho. Por cima do forte desempenho do ano anterior, em 2021 crescemos 318 milhões de euros em vendas, o que representou um aumento de 6,3% face ao histórico, e de 3,4% no universo like-for-like, correspondendo a um volume de Negócios total de 5.362 milhões de euros. Em particular, no canal online tivemos novamente uma evolução notável, com um crescimento de aproximadamente 30%. Foram por si só resultados excelentes, mas que se revelam ainda mais relevantes por termos superado a variação do mercado, permitindo um novo reforço de quota e da nossa posição de liderança.

Em termos de rentabilidade operacional, a MC atingiu um EBITDA subjacente de 537 milhões de euros, preservando uma margem sobre o volume de Negócios de 10,0%, num contexto de maior pressão inflacionária sobre a base de custos dos retalhistas. Adicionalmente, gerámos neste período um cash-flow de 243 milhões de euros e robustecemos ainda mais o nosso balanço, reduzindo a dívida financeira líquida em 103 milhões de euros, após o pagamento do dividendo anual. Estes sólidos resultados permitem-nos continuar a investir nos nossos Negócios, expandindo o parque de lojas físicas e canal online, apostando na transformação digital e reforçando as nossas operações.

Em mercados cada vez mais competitivos, o que lhe dá confiança para antecipar os próximos anos como positivos para a Empresa?

É verdade que operamos em mercados cada vez mais competitivos, com mais retalhistas presentes, físicos e online, mas é também verdade que existe ainda espaço para crescer, quer em retalho alimentar, quer em saúde, bem-estar e beleza.

Como Empresa, atravessamos um momento muito positivo, e temos uma situação sólida que nos permite continuar a promover a expansão sustentável dos vários Negócios e investir nas nossas Pessoas. Para além disso, dispomos de Equipas magníficas, empenhadas em entregar a melhor proposta de valor aos nossos Clientes e, com isso, obter um reconhecimento cada vez mais destacado, o que certamente contribuirá para reforçarmos a nossa liderança de mercado, fazendo dos próximos anos a continuação de um período de grande sucesso para a MC.

Quais serão as principais prioridades da MC em 2022?

Temos quatro grandes prioridades que já nos acompanham nos últimos anos. Em primeiro lugar, prosseguir o crescimento dos nossos Negócios de retalho alimentar e de saúde, bem-estar e beleza. Continuaremos a expandir fisicamente e a investir no online, e reforçaremos a articulação dos dois canais através de uma proposta de valor cada vez mais omnicanal.

Em segundo lugar, vamos maximizar a captura de valor através da transformação digital, que nos vai permitir tornar os modelos operativos mais eficientes e ágeis ao longo da cadeia de valor, e oferecer soluções cada vez mais ajustadas às necessidades de cada Cliente específico.

Em terceiro lugar, permaneceremos atentos a todas as necessidades dos consumidores, ajustando e reforçando a nossa proposta de valor, mantendo-nos como um operador democrático e competitivo, e assegurando a nossa diferenciação em áreas chave da oferta como a marca própria e os frescos.

Como base da nossa estratégia, o foco nas nossas Pessoas e no desenvolvimento sustentável. Não existem boas estratégias sem talento e, portanto, trabalharemos para sermos cada vez mais capazes de atrair e reter os melhores, e continuaremos a investir na formação contínua das nossas Pessoas e nas competências de futuro para não deixarmos ninguém para trás. Temos também muito claro que hoje não podemos pensar Negócio sem sustentabilidade, é um imperativo ético das organizações, e estamos focados em ser consistentemente um exemplo nas suas várias dimensões.